Muitos guitarristas despertaram para a música ao ouvir um belo solo de guitarra. Além de ser divertido e desafiador, é uma das melhores formas de melhorar sua técnica.
Estava eu na minha casa e meu irmão chega com o disco Led Zeppelin IV, a obra prima da banda inglesa que tinha Stairway to Heaven. O álbum já havia sido lançado há uns 10 anos, em 1971. Mas eu fui ouvi-lo pela primeira vez quando tinha uns 17 anos de idade, em 1982. Assim que ouvi a faixa, a reação foi imediata: “eu tenho que tocar isso”. Primeiro foi a guitarra limpa que acompanhava os versos cantados por Robert Plant.
Aos poucos, nota por nota, fui descobrindo onde estava cada nota, memorizando as frases e finalmente aprendendo a tocá-las. E então, finalmente, cheguei ao solo final, que naquela época era uma montanha de quilômetros de altura a ser escalada.
Aquele solo tinha uma sofisticação técnica e velocidade que fariam com que eu tivesse que me dedicar por semanas, meses, até conseguir encarar o desafio. Mas eu tinha que conseguir colocar aquele solo embaixo dos meus dedos. E, movido tão somente pela vontade de tocar o solo genial do Jimmy Page, abaixei a cabeça até conseguir.
Esse texto vai tratar um pouco de dicas para tirar um solo e da enorme diferença entre fazer isso há 35 anos atrás e nos dias de hoje.
3 compassos, uma volta.
Para tirar qualquer solo, a primeira coisa a se fazer é entender o que está sendo tocado. Aí você começa a procurar as notas no braço, vai juntando e memorizando tudo. Evidentemente, com os programas que alteram o tom e o andamento da música digitalmente, as coisas se tornaram incrivelmente mais fáceis do que se fazia antigamente. Mas disso falaremos adiante.
Naquela época, a única maneira de ouvir o Led Zeppelin IV (e qualquer outro disco na minha casa) era através de um toca discos Sanyo. Esses toca-discos foram produzidos para girar a 33,5 rotações por minuto. E eles tocavam aqueles discos pretos de vinil, que continham sulcos em espiral que conduziam uma agulha. Essa agulha lia o que estava gravado no disco, na medida em que ele ia girando.
Em outras palavras, como eram 33,5 voltas por minuto, cada volta demorava pouco menos de 2 segundos para ser completada. Portanto, um solo de 20 segundos era tocado em cerca de 10 voltas do disco.
Como a gente fazia?
Colocava o disco para tocar e, quando chegava a hora do solo, a gente ficava fazendo o disco tocar por um determinado número de voltas correspondente à parte do solo que estávamos estudando. Quando chegava no final do trecho, a gente segurava o disco e voltava uma ou duas voltas, tentando não tirar a agulha do lugar.
Era um jeito bastante eficiente de riscar os discos e destruir o motor do toca-discos.
E hoje em dia? Como é tirar um solo?
Para resumir em uma expressão: mudou da água para o vinho. Não nos esqueçamos: ninguém toca um solo se não entender e memorizar as notas e a forma de tocá-las. E, nesse ponto, o avanço da digitalização da música permitiu o aparecimento de programas incríveis que facilitam demais a tarefa de tirar um solo. Porque facilitam a tarefa de entender e memorizar cada nota.
Aplicativos como o Music Speed Changer (Android), Audio Trimmer (Android), Guitar Rig (Android e iOS) e Garage Band (iOS) tem funcionalidades sensacionais que vão te ajudar a tirar um solo com muito mais facilidade. Entre elas, a possibilidade de selecionar um trecho de um solo e tocar esse trecho em loop numa velocidade mais lenta que a original.
Assim você vai treinando em velocidades mais baixas e, na medida em que se familiariza com o solo, vai aumentando a velocidade até tocar o solo na velocidade original da canção (ou até mais rápido, para a eventualidade de sua banda resolver tocar a música um pouco prá frente).
Além dos apps, há sites em que você pode comprar video-aulas onde guitarristas profissionais te ensinam a tocar determinados solos nota por nota. Sites como Guitar Tricks, Lick Library e True Fire são um capítulo à parte, com aulas não apenas de solos, mas um verdadeiro ecossistema de ensino de guitarra, violão e baixo. Vale muito a pena fazer uma visita. Estes sites, inclusive, disponibilizam backing tracks de canções famosas para que você possa treinar com o acompanhamento de uma banda profissional.
Então ficou moleza?
Infelizmente (ou felizmente), a resposta é não. Por mais que as novas tecnologias tenham ajudado na tarefa de tirar um solo, ainda são necessárias horas e horas de estudo para que seus dedos façam determinados movimentos. E aí, não há outro caminho: vai ser necessário abaixar a cabeça e realmente se dedicar a melhorar sua técnica.
Tommy Emmanuel, o lendário violonista australiano que, inspirado no grande Chet Atkins, elevou dramaticamente o nível técnico do estilo fingerstyle, diz na aula inicial de seu curso, à venda no site True Fire: “o que nós vamos fazer aqui é iniciar um processo para ensinar alguns músculos do seu corpo a fazerem determinados movimentos que eles ainda não sabem fazer.”
Então, tenha isso sempre em mente: tirar um solo nunca deixará de ser um meio para melhorar sua técnica. Porque, se o seu repertório técnico não é suficiente para tocar um solo, você terá que melhorar sua técnica para fazê-lo. E isso irá fazer de você um guitarrista cada vez melhor.
Escrito por Moisés Seba Neto
Sócio fundador do Grave Online, responsável pela pré-produção, atendimento ao artista e um incrível guitarrista de mão cheia.